sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

PECULIARIDADES NO CEMITÉRIO DE MARUIM.

UMA LÁPIDE DIFERENTE

Entrar no cemitério de Maruim é, além de outras coisas, ter um encontro com a história e com a arte. -Nunca pensei que encontraria, no lado direito, próximo à entrada, um túmulo com cores que fugiam do padrão e com um epitáfio tão incomum!Tudo aconteceu numa das minhas visitas ao cemitério local, o Cruzeiro do novo século; como sempre, fui observar as antigas lápides, bem como seus respectivos epitáfios. Muitas destas lápides são centenárias, algumas, possuem interessantes e até suntuosos detalhes esculpidos em mármore. Todavia, encontrar uma como a que me referi acima, não poderia deixar de me causar surpresa, pela peculiaridade. -O epitáfio? -“Exército Brasileiro Herói .Herói".
Nos dias de hoje dificilmente ouvimos este termo desvinculado dos desenhos animados ou dos inúmeros filmes que são febre nos cinemas. Todavia, houve um tempo em que o termo tinha peso, e ser herói era menos fantasioso e mais realista. -O tempo? -A Segunda Guerra Mundial, quando o Brasil deixou sua neutralidade para lutar contra os países do Eixo. -O local?- a Itália. O protagonista?-Zacarias.
Zacarias Isidoro Cardoso, era filho de Joaquim Menezes Cardoso e de Maria Antonieta Cardoso, nascera em Maruim no dia 02 de janeiro de 1923. Aos 20 anos integrou-se ao Exército brasileiro, servindo à Força Expedicionária Brasileira (FEB) para lutar contra o nazismo e contra o fascismo na Europa. Embarcou em janeiro de 1944. Ariscou a vida em missões de alta periculosidade, como avançar em campos minados à frente da tropa para que esta pudesse seguir segura. Por seu país receberia vários ferimentos em combate: Um tiro que quase o matou, deformações nas mãos e no tórax, e a perda de um dos pulmões. Zacarias certa vez declarou que decidiu ir à guerra depois de ter presenciado o bombardeio por parte de um submarino alemão a dois navios brasileiros na costa sergipana, isto em 1942. Zacarias era um homem abnegado e corajoso, chegou a ser condecorado com a Medalha de Sangue do Brasil, por ter sofrido graves ferimentos em combate, entre outras. Podemos ver seus méritos também através de um depoimento de um maruinense que vivera no então período (eu tive a oportunidade de conhecê-lo na infância):
Na época da guerra sofri muito. Peça a Deus para nunca ver uma guerra. ZACARIAS embarcou logo, foi um ‘herói voluntário’, enquanto muita gente se escondia. O meu pelotão seria o próximo a embarcar na estação ferroviária. Foi quando veio um rádio avisando que a guerra tinha acabado (lágrimas)."Set. 1990. Edson Lemos (Decinho) -69 anos.
Depois de ter vivenciado tanta coisa, nosso protagonista faleceu a 25 de dezembro de 2011, num natal, aos 88 anos. Seu sorriso nas fotos meio que estimula aos mais jovens a lutarem por aquilo que é certo a se fazer bem como por aquilo em que se acredita, e que, em tempos difíceis, a coragem pode manifestar-se quando o vantajoso é se calar e não se envolver. Concluo dizendo que está lápide não é a única surpresa a ser encontrada ali. No cemitério de Maruim, as lápides são convidativas, possuem curiosidades e segredos inimagináveis! Vale a pena conferir. Eu estimulo a visita, as pesquisas e o estudo. - Na lápide colorida ? - um herói. -No epitáfio? -As honras merecidas! Maruim tem história!

Nas fotos: 1.A lápide do sargento Zacarias 2.Sargento Zacarias



Por Hefraim Vieira Andrade

Fontes:
http://www.infonet.com.br/noticias/cidade//ler.asp?id=122211
http://www.coisasdesocorro.com.br/2013/09/zacarias-um-verdadeiro-heroi-sergipano.html

CRUZ E SILVA, Maria Lúcia Marques. Inventário Cultural de Maruim. Edição comemorativa aos 140 anos de Emancipação Política da cidade. Aracaju: Secretaria Especial de Cultura, 1994.