ALGUMAS CURIOSIDADES SOBRE O GABINETE DE LEITURA DE MARUIM
CONFLITOS
O Gabinete foi e é uma Luz, e como toda a Luz dissipa as sombras,
seus habitantes e amantes talvez o odiassem no passado.
A Luz a que me refiro é o Conhecimento e a Sabedoria -, atributos
que o Gabinete de Leitura de Maruim fundado em 19 de agosto 1877 possuía, incorporados em
diversas formas e inclusive em um símbolo seu[1].
Em contra partida a ignorância, a tirania e a intolerância (as sombras), são
consequências da ausência desta Luz, que raiou numa terra cercada por
manguezais e que cresceu e frutificou estendendo seus ramos até a Europa,
atraindo para si prosperidades financeiras e intelectuais.
Como disse a princípio, a Luz dissipa as sombras e isso não é
um processo fácil para aqueles que nela habitam, pois seriam capazes de lutar
até a morte para continuar na escuridão, uma vez que a Luz lhes é danosa, pois não
estão acostumados com ela! Há também aqueles cujas sombras lhes são
convenientes! - Estes são aqueles que usam da ignorância e simplicidade das
maças para seus particulares e as vezes sórdidos interesses!
Há um tempo passei a especular dentro de mim: Quantos
problemas devem ter surgido com a criação do Templo de Luz[2] -, que era outo nome para o Gabinete, dado por Joel Aguiar. Eu tentava compreender
com o auxílio da história que impactos teriam causado em Maruim no contexto sociopolítico
da segunda metade do século XIX numa pequena e apartada cidade nordestina que,
como outros exemplos, tendia a ser extremamente influenciada pela Igreja e
pelo Velho Regime de latifundiários escravagistas que não estavam dispostos a
perder seus status e privilégios.
Não que tenha tido um impacto tão absurdo, mas as ideias
“francesas” que outrora derrubaram o Absolutismo francês no final do século
XVIII, ou mesmo o Iluminismo que valorizava a razão, não eram ideias bem vistas por uma parte da sociedade maruinense da época, por conta das fortes influências católicas que
tivemos desde o processo colonial, tanto sergipano como brasileiro, influências que nos
afetaram e marcaram profundamente, das quais ainda temos forte herança! - É por
isso que ouso dizer que se os portugueses, ou mesmo Roma não tiveram tolerância
para com os índios, que eram os habitantes originais da terra, ou mesmo para com
os judeus que aqui se refugiaram, antes perseguindo-os e massacrando-os, teriam
tolerância com um ambiente frequentado por muitos maçons e Liberais? –
Obviamente que não! E principalmente se levarmos em conta a Questão Religiosa de 1864 (vejam a
Contribuição Maçônica em Maruim Parte II nos arquivos do meu blog). - O mesmo
ocorre com os Conservadores em seu conflito contra os Liberais. - Há registros deste conflito aqui em Maruim[3]! - Um exemplo claro foi o caso de Manoel Teles Nogueira Cravo[4],
que foi ex-chefe da redação da Revista Literária do Gabinete, transferido de
Maruim para trabalhar em Laranjeiras por conta de perseguição. Acerca disto seguem-se
os seguintes relatos:
“Ao discursar sobre
moral e justiça, Cravo demonstrou algum tipo de ressentimento porque as autoridades tentaram afastá-lo do convívio do GLM e da sua Revista.”
“Cravo, na posição de um Liberal, defendia os ensinamentos não apenas
sobre a égide do catolicismo, mas também de uma educação religiosa (qualquer
que fosse ela) para a vida do cidadão”.
(CRUZ E SILVA, Maria Lucia Marques. Revista Literária do Gabinete de
Leitura de Maroim (1890-1891): subsídios para a história dos impressos em
Sergipe. São Cristóvão. 2006. Página 167).
Esta última abordagem é típica
dos ideais maçônicos que presam pela na liberdade de culto, o que evidencia que
o próprio poderia estar inserto numa loja. Há também como prova das
insatisfações para com o Gabinete o relato no discurso de Joel Aguiar em 1927:
“Em 1877, nasceu à ideia de se fundar aqui uma biblioteca e em agosto
desse ano ela se realizou. Estais a pensar que se fundou o Gabinete de Leitura
entre sorrisos de contentamento?” (...).
(AGUIAR, Joel. TRAÇOS DA HISTÓRIA DE
MARUIM. 2004. Pág. 132).
Sobre a natureza do
Conflito ele é uma profunda falta de entendimento entre duas ou mais partes, um
choque entre elas, mas em que o conhecimento fere alguém?! Deduz-se que se
alguém se opõe ao esclarecimento de uma população é porque teme perder o apoio
desta ou porque teme que, havendo uma população esclarecida, um sistema ou uma
alienação seja extinta, o que acarretaria na perda de muitos privilégios! Será que este foi motivo pelo qual o Barão de Maruim, um Conservador e grande latifundiário, não
apoiou a Sociedade Literária que viria a se tornar o Gabinete de Leitura?! - Sabe-se que não quis assinar a sua ata de
fundação[5],
e como era representante do regime monárquico e fiel católico -, o que
significava que estava debaixo dos ditames da Bula Syllabus[6],
jamais pisaria no Gabinete de Leitura!
Uma coisa interessante de se saber é que mesmo que quisessem impedir o progresso intelectual, este jamais poderia ser interrompido aqui em Maruim, porquanto era um importante centro comercial na época, além de que, com a presença de muitos estrangeiros de diferentes nacionalidades, isso seria uma tarefa muito difícil inda mais se levarmos em conta o fato de ter havido aqui cerca de sete consulados -, o que ligava de certa forma Maruim como o mundo, e tentar interromper esse progresso seria o mesmo que dar socos ou golpes em pontas de facas!
Uma coisa interessante de se saber é que mesmo que quisessem impedir o progresso intelectual, este jamais poderia ser interrompido aqui em Maruim, porquanto era um importante centro comercial na época, além de que, com a presença de muitos estrangeiros de diferentes nacionalidades, isso seria uma tarefa muito difícil inda mais se levarmos em conta o fato de ter havido aqui cerca de sete consulados -, o que ligava de certa forma Maruim como o mundo, e tentar interromper esse progresso seria o mesmo que dar socos ou golpes em pontas de facas!
Nos dias atuas os antigos Centros ou Polos difusores de conhecimento perderam muito espaço com o advento
de inúmeras tecnologias, sendo a maior delas a Internet, - meio que liga o homem
com o mundo de maneira absurda, o que fez com que espaços como o Gabinete de Leitura de Maruim,
representante de um período revolucionário, não pudesse causar mais o mesmo impacto que causara noutro tempo. Porém, isto não significa que não tenhamos mais em nossa sociedade local
problemas com a ignorância, intolerância, tirania, etc. Que são as “trevas”
deste século; faz-se necessário que estes espaços além de figurarem como
acervos históricos ou mesmo como museus, desenvolvam seu papel de ofertar
a comunidade o esclarecimento, assim como à difusão do Conhecimento, estimulando
a contemplação do Saber das melhores formas possíveis.
Em fim, quero finalizar este texto sobre conflito dizendo -"Lux!", palavra do latim, que significa“luz”. da raiz indo-europeia "leuk"- brilho.
Por Hefraim Vieira
Andrade
[1] https://fontesdahistoriadesergipe.blogspot.com.br/2014_04_01_archive.html
[2]
AGUIAR, Joel. TRAÇOS DA HISTÓRIA DE MARUIM. 2004. Pág. 132
[3] CRUZ E SILVA, Maria Lucia Marques.
Revista Literária do Gabinete de Leitura de Maroim (1890-1891): subsídios para
a história dos impressos em Sergipe. São Cristóvão. 2006. Pág. 59
[4] CRUZ E SILVA, Maria Lucia Marques.
Revista Literária do Gabinete de Leitura de Maroim (1890-1891): subsídios para
a história dos impressos em Sergipe. São Cristóvão. 2006. Pág. 167
[5] CRUZ E SILVA, Maria Lucia Marques.
Revista Literária do Gabinete de Leitura de Maroim (1890-1891): subsídios para
a história dos impressos em Sergipe. São Cristóvão. 2006. Pág. 58
[6] https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/questao-religiosa-igreja-e-estado-entram-em-conflito.htm
Outras Fontes:
CRUZ E SILVA, Maria Lúcia Marques. Inventário Cultural de Maruim. Edição
comemorativa aos 140 anos de Emancipação Política da cidade. Aracaju:
Secretaria Especial de Cultura, 1994.